Simplesmente feliz | Uma filosofia de vida

27 abr

Não lembro de ter visto um filme sem plots – que são aqueles conflitos ou motivações que movem toda narrativa – que tenha dado tão certo quanto Simplesmente feliz (Happy-Go-Lucky, no original). O filme é centrado na professora primária Poppy, vivida brilhantemente por Sally Hawkins. Solteira, 30 anos, sem filhos, Poppy divide um apartamento com uma amiga, também professora, e encara a vida sempre com um sorriso estampado no rosto.

Sally Hawkins é a sorridente Poppy

O fio condutor da história é a relação de Poppy e Scott (Eddie Marsan), seu instrutor de direção. A professora decide aprender a dirigir quando sua bicicleta é roubada. O contraste perfeito entre o positivismo de Poppy e o mau humor do instrutor rende ótimos momentos. O último encontro dos dois, aliás, é emocionante. Outra ótima sequencia do filme, mas totalmente oposta, é a primeira aula de flamenco. As instruções da intensa e obsessiva professora espanhola nos faz grudar na tela, mas as expressões de Poppy seguindo à risca o que era pedido são impagáveis.

Se o excesso de otimismo da professora pode parecer artificial, em alguns momentos, o roteiro nos revela, sutilmente, conflitos enfrentados interna e externamente por Poppy que a tornam mais humana. Ao mesmo tempo que adota o bom humor como filosofia de vida, Poppy não foge dos problemas e enfrenta-os com coragem e determinação. A preocupação com um aluno de comportamento agressivo, a relação amorosa com um colega de trabalho, a complicada com sua irmã e a paixão inesperada de que é alvo são exemplos disso.

Acostumado com tramas complexas e mais dramáticas, como em Segredos e Mentiras e O Segredo de Vera Drake, o diretor britânico Mike Leigh acerta em cheio ao trabalhar com personalidades tão diferentes e complicadas em certos aspectos, de maneira tão leve e despretensiosa, e nos presenteia com um filme cativante, simpático e divertido, mas ao mesmo tempo, denso e inteligente.

Poppy nos mostra que temos que fazer o que temos vontade, seja pular em uma cama elástica, dançar flamenco ou ficar bêbado em uma balada com os amigos, e tentar não deixar ser reprimido pelos outros. A vida é simples como a felicidade, quem a complica somos nós.

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