Em 2011… | Macacos, Cowboys e Aliens

9 jan
Onde corremos atrás de algumas estreias do ano que passou.

–xx–

Planeta dos Macacos: A Origem, de Rupert Wyatt (Rise of the Planet of the Apes, EUA, 2011)

A franquia Planeta dos Macacos nunca teve muita chance de explorar seus temas fora da estrutura da ficção científica barata. Ainda que o primeiro filme (o hoje clássico de 1968 com Charlton Heston) trate de temas como liberdade e opressão, ele sempre foi mais lembrado pelas, agora icônicas, “fantasias de macaco” e pelo final surpreendente. As inúmeras sequências e “pré-sequências” posteriores trataram de colocar a franquia de vez no universo do filme B. E nisso incluo o terrível remake de 2001.

Então havia pouco que indicasse que essa prequel fosse se tornar algo de valor: diretor desconhecido, escolha de elenco que remete à velha mentalidade do star system de trazer quem quer que esteja “em voga”, ainda que não soe muito certo para o papel (caso de James Franco e Freida Pinto) e a opção claramente comercial de trazer Planet of the Apes para o título em inglês, tornando-o meio besta. Tudo indicava que esse seria apenas mais um produto pensado por Hollywood para faturar alto no primeiro final de semana de estreia, antes que as pessoas se dessem conta.

Não fosse por Caesar.

Não é exagero dizer que Caesar, o macaco interpretado por Andy Serkis através da técnica de Motion Capture, é mais um passo em direção a uma remodelação dos limites do que um ator pode alcançar com seu trabalho. Caesar, como filmado por Wyatt, é um ser real e não apenas mais um efeito. E é em torno dele que, espertamente, o filme se foca e o que torna esse exemplar de Planeta dos Macacos algo acima da média.

Quando o filme se interessa por algo que não seja o macaco, sua natureza esquemática vem à tona. A começar pelo próprio casal de protagonistas (Will e Caroline, interpretados por James Franco e Freida Pinto) que, por não terem química ou conflito real, nos faz questionar sobre a real utilidade de Caroline para o filme. Mas até isso faz sentido tematicamente, já que, à parte o senhor com Mal de Alzheimer vivido por John Lithgow, é difícil torcer por qualquer dos humanos vistos na tela e o filme acaba revelando uma visão mais contundente do papel da raça humana no mundo. Uma visão niilista incomum para Hollywood.

Para um grande blockbuster, Planeta dos Macacos possui, curiosamente, diversos momentos de silêncio. Todos usados no sentido de trabalhar o arco dramático pelo qual Caesar passa, como na bela cena onde o macaco desenha a janela do sótão onde morava na parede da cela do “canil para símios” onde passa a viver. E o mesmo desenho desempenha papel importante posteriormente, quando passa a representar o que Caesar decide deixar para trás através de suas ações de rebeldia.

Talvez um dos melhores exemplos da qualidade desse filme seja mesmo o fato de que ele trabalha uma ideia que pode ser incrivelmente brega, senão totalmente ridícula, e a transforma em um momento dramático de peso: quando Caesar se rebela contra seu carcereiro e grita um potente “Não!”, o ridículo de presenciarmos um macaco falante se dilui por termos seguido, com calma, a trajetória desse personagem até esse ponto.

Macacos falantes nunca ficaram tão bem na tela.

–xx–

Cowboys & Aliens, de Jon Favreau (EUA, 2011)

Cowboys & Aliens é um desses brinquedos caros de Hollywood que vêm com defeito de fábrica. Curiosamente, não há nada essencialmente errado com o filme, além do fato de que ele falha em ser divertido. E, enquanto desde o começo ele soe como uma daquelas “ideias geniais” que parecem sair de reuniões de executivos engravatados que se acham mais espertos que roteiristas e diretores, há várias coisas no filme que sugerem um esforço genuíno para que o produto final fosse digno.

Acho que o que estou querendo dizer é que Cowboys & Aliens, apesar de sua premissa de brincadeira de criança, não é um blockbuster que maltrata o espectador por ser imbecil. O diretor Jon Favreau (o mesmo “operário-padrão” dos dois primeiros Homem de Ferro) claramente tenta trabalhar as ideias do filme com seriedade e, para isso, trabalha com uma equipe talentosa: desde a equipe de efeitos e design de produção, que trabalham bem em dois gêneros díspares como o faroeste e a ficção científica, passando pelos atores Daniel Craig, Harrison Ford (que, pela primeira vez em algum tempo, parece estar afim de atuar de verdade), Sam Rockwell e Olivia Wilde, que atuam sem resquícios de que duvidam do material.

Para não dizer que todo o esforço é inútil nesse filme, o roteiro conta com um sistema interessante de setups e payoffs que cria mini-arcos dramáticos para quase todos os personagens. A dinâmica entre Woodrow Dolarhyde (Ford), seu capataz que o respeita como pai (Adam Beach) e o garoto que procura pelo pai, sequestrado pelos aliens (Noah Ringer), é particularmente interessante. Nessa tentativa de criar esses mini-arcos, até um alienígena, que aparece brevemente em determinado ponto do filme, volta ao final com uma espécie de vingança pessoal contra o personagem de Daniel Craig. Dada a quantidade de personagens, essa dinâmica não é fácil de manter em um filme dessa escala, e é de fato incomum que um filme com esse orçamento se preocupe com isso. Mas a verdade é que essa noção básica de estrutura de roteiro se torna um feito menor já que o filme falha em sua missão central: gerar empatia com seu público.

–xx–

 Veja também:

Lanterna Verde e Capitão América: heróis sem drama

“Harry Potter e as Relíquias da Morte – pt. 2″: fim e clímax

“X-Men: Primeira classe”, de Matthew Vaughn

Deixe um comentário