Anjos e demônios | Entre a cruz e a espada

21 maio

Em Anjos e demônios, o desafio era fazer do longa o mais próximo possível de uma continuação e não uma refilmagem do anterior, O código Da Vinci, já que os livros são praticamente idênticos. Para quebrar o tédio, a dupla de roteiristas David Koepp e Akiva Goldsman optou, então, por uma série de mudanças na história que podem até desagradar os fãs, mas que, de fato, surpreendem.

"Religion is flawed because man is flawed"

Os personagens e conflitos omitidos funcionam, pois o filme consegue prender a atenção até de quem leu o livro mais de uma vez. Ao contrário da obra original, que custa a deslanchar, o filme economiza na teoria e parte logo para a ação. O roteiro explora em diversos momentos o contraste entre ciência e tecnologia e religião, que é o centro da história, como nas cenas no Arquivo do Vaticano ou da chegada dos cardeais à cidade santa. O texto ainda consegue, de forma satisfatória, atribuir a outros as funções de personagens suprimidos, consertando falhas no texto de Dan Brown que tornaram a história mais verossímil, dinâmica e ainda mais tensa.

A direção insípida e tão criticada de Ron Howard não chega a incomodar, mas deixa a desejar na condução dos atores. A morosidade de Tom Hanks e a interpretação insossa de Aylet Zurer não combinam com a correria frenética da narrativa. Por outro lado, o irlandês Ewan McGregor, como o camerlengo Patrick McKenna, assistente do falecido Papa que assume o cargo enquanto a vaga está desocupada, faz um trabalho mais convincente.

Anjos e demônios não é um filme cheio de pretensões, a não ser a pura diversão, e aqui Howard se sai bem melhor que em O código Da Vinci, cuja narrativa proporcionava momentos enfadonhos. Talvez o grande mérito deste filme seja também seu grande pecado, pois, ao mesmo tempo que a fidelidade com o original tenha sido deixada de lado, o resultado acaba, sendo superior a obra em que foi inspirado, mas tão perecível quanto os papiros de Galileu.

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