Em Anjos e demônios, o desafio era fazer do longa o mais próximo possível de uma continuação e não uma refilmagem do anterior, O código Da Vinci, já que os livros são praticamente idênticos. Para quebrar o tédio, a dupla de roteiristas David Koepp e Akiva Goldsman optou, então, por uma série de mudanças na história que podem até desagradar os fãs, mas que, de fato, surpreendem.
Os personagens e conflitos omitidos funcionam, pois o filme consegue prender a atenção até de quem leu o livro mais de uma vez. Ao contrário da obra original, que custa a deslanchar, o filme economiza na teoria e parte logo para a ação. O roteiro explora em diversos momentos o contraste entre ciência e tecnologia e religião, que é o centro da história, como nas cenas no Arquivo do Vaticano ou da chegada dos cardeais à cidade santa. O texto ainda consegue, de forma satisfatória, atribuir a outros as funções de personagens suprimidos, consertando falhas no texto de Dan Brown que tornaram a história mais verossímil, dinâmica e ainda mais tensa.
A direção insípida e tão criticada de Ron Howard não chega a incomodar, mas deixa a desejar na condução dos atores. A morosidade de Tom Hanks e a interpretação insossa de Aylet Zurer não combinam com a correria frenética da narrativa. Por outro lado, o irlandês Ewan McGregor, como o camerlengo Patrick McKenna, assistente do falecido Papa que assume o cargo enquanto a vaga está desocupada, faz um trabalho mais convincente.
Anjos e demônios não é um filme cheio de pretensões, a não ser a pura diversão, e aqui Howard se sai bem melhor que em O código Da Vinci, cuja narrativa proporcionava momentos enfadonhos. Talvez o grande mérito deste filme seja também seu grande pecado, pois, ao mesmo tempo que a fidelidade com o original tenha sido deixada de lado, o resultado acaba, sendo superior a obra em que foi inspirado, mas tão perecível quanto os papiros de Galileu.
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